domingo, 10 de maio de 2009

21st Century Breakdown




Resenha publicada na revista Rolling Stone sobre o novo álbum do Green Day.
O álbum será lançado em 15 de maio 2009 e foi produzido por Butch Vig.

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Desde que o Green Day eram os moleques do punk dos anos 90 que ninguém esperava que fossem crescer, tudo o que eles fazem vira uma surpresa. E o que é mais bizarro: o fato de que eles soam tão ambiciosos e audaciosos em seu oitavo álbum ou o fato de eles terem é conseguido chegar no oitavo álbum? De qualquer maneira, os perdedores que detonaram nas rádios em 1994 gritando “I got no motivation,” com Billie Joe Armstrong largado no sofá da sua mãe – eles acabaram sendo os últimos a ficarem de pé, aqueles vivendo ainda pelos ideais de sua época e escrevendo as canções mais difíceis de sua carreira bem depois de terem passado o ponto de acabarem no programa de TV Sober House (programa da VH1 onde estrelas famosas entram para reabilitação). E eles o fizeram com uma maldita ópera-rock.

American Idiot parecia ser o kamikaze da carreira da banda – um álbum conceitual sobre esperanças e sonhos americanos, com personagens chamados St. Jimmy e Jesus of Suburbia? Bela tentativa! Mas, o álbum não somente resgatou o Green Day do limbo onde se encontravam, mas recarregou as baterias musicais da banda. Com quase 6 milhões de cópias vendidas e ainda contando (*só nos EUA), American Idiot se tornou a espécie de blockbuster multi-platinado do rock que não deveria mais existir, pois o Green Day se transformou naquela banda que não tem mais como existir outra igual – lidando com paixões fulminantes, correndo o risco de darem com os burros n’água com tal argumento. Até mesmo as canções que não funcionaram ou as partes do roteiro que não faziam sentido apenas aumentavam a diversão, pois Armstrong, o baixista Mike Dirnt e o baterista Tre Cool se recusavam a diminuir o ritmo.

21st Century Breakdown é ainda melhor, tão majestoso e confiante que faz com que American Idiot pareça apenas uma espécie de “aquecimento”. Estão de volta no modo ópera-rock, dividindo o álbum em três partes, “Heroes & Cons,” “Charlatans & Saints,” e “Horseshoes & Hand Grenades.” Mas, desta vez não existem viagens de cerca de nove minutos – apenas duas das 18 faixas do álbum chegam na marca de cinco minutos – e o Green Day focou suas idéias em suas canções mais difíceis e afiadas até hoje. Armstrong traz agora uma compaixão ainda maior em seu vocal, até mesmo quando cospe versos auto-dilacerantes como, “My generation is zero/I never made it as a working-class hero.”

Assim como American Idiot, 21st Century Breakdown é um épico com um pé nos anos 70, contando a história de dois jovens amantes punks em meio à fuga no colapso da América pós-Bush. Os heróis aqui são Christian e Gloria, dois garotos alienados pela igreja (“East Jesus Nowhere”), pelo estado (“21 Guns”) e por todos os adultos nos quais um dia eles acreditaram (“We are the desperate in the decline/Raised by the bastards of 1969”). Christian é o auto-destrutivo impulsivo (“Christian’s Inferno”), enquanto Gloria é mais idealista e política (“Last of the American Girls”), mas são forçados a cuidarem um do outro, pois ninguém mais fará isso por eles.

Ao longo do álbum, a banda combina a força do punk com seu mais novo amor pela grandiosidade do rock clássico – em um momento estão falando de Bikini Kill, no outro estão mandando brasa no que parece o minuto final de “Jungleland.” A faixa-título é uma canção com diferentes partes que paga um tributo descarado à hinos de rádios dos anos 70 como “Bohemian Rhapsody” do Queen, “Fox on the Run” do Sweet e “All the Young Dudes” do Mott the Hoople. Armstrong nos leva para um tour do país, desde sua infância difícil (“Born into Nixon, I was raised in hell / A welfare child where the teamsters dwelled”) à idade moderna (“Video games to the towers’ fall / Homeland Security could kill us all”). Ele acaba com nada mais para mostrar a não ser sua raiva e o coração para transformar esta raiva em canções.

As baladas são as mais açucaradas até hoje; “Last Night on Earth” poderia ser da banda Air Supply e não pense por um minuto que eles não adoram a idéia de irritar as pessoas com isso. Mas, os destaques são os hinos punk cheios de raiva. Eles se levam por entre violões latinos (“Peacemaker”), coros à la Clash (“Know Your Enemy”) e ataques de quatro acordes como na época de garagem (“Horseshoes and Hand Grenades”). “Last of the American Girls” aparece como uma canção de amor descompromissada para uma garota rebelde – quando Armstrong canta, “She won’t cooperate,” ele a está elogiando da melhor maneira possível.

O Green Day desta vez mira sua arma na religião, com “East Jesus Nowhere” enquanto atacam a hipocrisia Cristã. Mas, na maioria das vezes cantam sobre o fato da América agora acordar de um pesadelo que durou oito anos. Na balada “21 Guns,” eles ainda parecem ter uma palavra ou outra para os desiludidos apoiadores de Bush (“Your faith walks on broken glass / And the hangover doesn’t pass”).

Parte da emoção de 21st Century Breakdown é que os caras do Green Day não precisam se esforçar tanto assim. Não é que não existe ninguém mais com quem eles possam competir. (O quê? Sponge vai gravar uma adaptação tripla de Moby Dick? Provavelmente não!) Ainda assim, o esforço extras é ouvido na música e cada canção adiciona algo à vibe total de homens maduros tentando dificilmente se comunicar, desafiando-os juntamente com sua audiência. Eles revitalizam a idéia de verdadeiros rock stars que têm algo a dizer para o mundo real. Estão mantendo promessas que eles mesmos nunca fizeram, promessas deixadas para trás por todas aquelas bandas medianas dos anos 90 que acabaram pelo meio do caminho. Se é uma surpresa contínua o fato da banda ser os únicos a sempre pegarem a tocha e seguirem em frente, isso é parte do que faz 21st Century Breakdown tão atual e vital – O Green Day soa como se estivesse chocado como qualquer outra pessoa.



Download do single 21st Century Breakdown

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